"Falta de vontade política". Cuidados continuados perdem 110 camas a partir de janeiro

A denúncia parte da Associação Nacional de Cuidados Continuados, que critica o Governo por não atualizar o financiamento ao sector.

Carlos Santos Neves - RTP /
Nuno Patrício - RTP

Os cuidados continuados vão sofrer uma redução de 110 camas a partir de janeiro do próximo ano. Na origem do recuo está a falta de financiamento. A denúncia partiu este domingo da Associação Nacional de Cuidados Continuados, que aponta o dedo ao que considera ser “falta de vontade política”.

Nos últimos cinco anos, fecharam mais de 400 camas de cuidados continuados no Serviço Nacional de Saúde.Em causa está agora a rescisão dos contratos com o Estado em quatro unidades na Região Norte e no Algarve.


“Desde 2016 que o salário mínimo tem subido fortemente e, por arrasto, os outros salários. Temos tido uma inflação relativamente elevada, que agora começa a acalmar um pouco, mas ainda existe. E tudo isso representa um aumento de custos muito grande para as unidades de cuidados continuados”, fez notar, em entrevista à RTP Notícias, o presidente da Associação Nacional de Cuidados Continuados.

“Durante a pandemia, os custos subiram exponencialmente, o salário mínimo não deixou de subir, os outros salários também não, e apesar de tudo os preços ficaram congelados, no Estado, nesses dois anos. Não havendo atualização de preços, naturalmente que os custos das entidades aumentam e não há uma receita que permita compensar esse aumento de custos”, explicou José Bourdain.

“Isso faz com que as entidades vivam situações financeiras dramáticas. Muitas delas faliram e outras rescindiram os seus contratos antes mesmo de entrar num processo de falência, nomeadamente salários em atraso, dívidas a fornecedores, dívidas à banca”, enumerou.A Associação Nacional de Cuidados Continuados admite que a subtração do número de camas possa mesmo ultrapassar as 110.


“A meta de 2016 apontava para 15 mil camas. Atualmente, temos dez mil camas”, observou José Bourdain, para acrescentar que o Plano de Recuperação e Resiliência “foi um falhanço absoluto”.

“Houve enormes atrasos por parte do Governo socialista, casos esses que ainda havia tempo para resolver, mas que este Governo não acautelou. Portanto, isto é o Governo que assume que perdeu 137,5 milhões de euros para cuidados continuados que vamos deixar de receber da União Europeia. Ou seja, das 5.500 camas previstas no PRR, apenas um terço vai avançar, dois terços não avançaram”.
Entrevista na íntegra

Questionado sobre os impactos desta realidade, nomeadamente o internamento prolongado em hospitais, o presidente da Associação de Cuidados Continuados assinalou que tal “custa aos cofres do Estado muitos milhares de euros todos os anos”.

“O que acontece é que há necessidade de internamento e as camas estão ocupadas por pessoas que não deviam lá estar”, apontou.

“Na terça-feira passada estivemos numa reunião com o secretário de Estado da Gestão da Saúde, que tem a tutela dos cuidados continuados, a quem propusemos um aumento de preços automático, a cada ano, que nem sequer é nada de inovador. É tão-somente uma fórmula que o senhor primeiro-ministro, enquanto candidato, disse que iria criar para o sector social em geral, mas que para os cuidados continuados não foi aplicada e nós não percebemos porquê”, rematou.
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